Parada cardioamorosa

Benzinho cheguei. Eram seis horas ela tinha acabado de chegar do trabalho.
Havia um som abafado de chuveiro. Vou fazer café viu? Meu dia hoje foi péssimo,
patrão enchendo o saco,
muitas cobranças, pouco tempo. Tô super cansada... Trabalho muito e ganho pouco.
Queria ser valorizada naquela merda de empresa...
Você também Benzinho... Trabalha de domingo a domingo, e a gente ainda tem essa
vidinha medíocre.
Não viajamos, não temos lazer.
Stress
Stress
Stress. Isso ainda nos mata...
Café tá na mesa amor. Pão e café quentinhos. Daquele jeito que você... ama!
[ele não respondia]
Benzinho você tá aí? (Ain que saco, odeio quando você não me responde!).
Ele estava aparentemente no banheiro tomando banho.
Você tá no banheiro benzinho?
BENZINHO?
BENZINHO?
A água do chuveiro caía e ele estava estirado no chão.
Ele não a escutava. Já tinha ido para os braços de Thanatos fazia tempo...
Nada além de ansiedade.
Por isso tremia.
Olhos estalados com medo de algo que nunca tinha visto
Pessoas que nunca existiram de fato (na mente dos outros)
O que de fato existe afinal?
A vida não seria nada mais que um pesadelo em que te esqueceram de acordar?
Oh que original..
Mas era isso que ele pensava...
Vai me dizer que nunca pensou isso...?
Era medo o que ele sentia...
Medo de crescer.
Medo de Deus estar zangado com ele...
Espirra a tristeza que devolvem os sentidos,
Medos, incertezas de que
tudo
TUDO
é sem fim,
que não existem Limites
nem mesmo para o "alívio".
inspiração
de todos os dias. Onde estará você que tanto anseio?
Oh alívio!.
o sono já vem...
do que adianta dormir se existem os sonhos?
Se conforme.
nem a dor tem fim.(?)
5:03 p.m. - Fim de tarde, não um qualquer, esse tinha clima de despedida...
Wiki nem tinha se dado conta dos amigos que fizera ali. Nem os amigos
tinham se dado conta de que talvez nunca mais veriam Wiki. Era estranho,
pois era a primeira vez que sentia falta de algum lugar. Não queria ir, já
havia dito isso aos pais. Mas do que adiantava mesmo? Eles nunca o
deram ouvidos. Wiki não se lembrava da infância. E em meio à essa vida
"nômade", nunca havia criado laços em lugar algum. Por isso estava sendo
tão difícil para ele, pois essa seria sua primeira despedida de coração.
Chegava a ser engraçado, pois, mesmo não estando em "fase terminal",
para Ritinha mal fazia diferença. Dramática nata, ela sabia que as chances
de rever Wiki, seu grande amigo, eram quase nulas.
5:38 p.m. - A noite se aproximava. As lágrimas de Ritinha não eram mais tímidas.
Para ela, pouco importavam os outros, sofria baixinho. Era seu amigo que estava indo!
Em meio àquelas caixas, o cheiro da amizade, os sonhos, iam sendo embalados,
abafados, permanecendo assim apenas no passado de Wiki para nunca mais
serem revividos daquela forma.
6:19 p.m. - Chegara o caminhão. Era a hora de ir, e com aquele medo um tanto diáfano,
levava na alma seus amigos, primeiros amigos, sonhos e também as suas mágoas.
Foi naquela cidade que Wiki conheceu acima de tudo o que era ser HUMANO.
Não havia mais jeito. Já era a hora de recomeçar.