Inquietas sombras

Ah vindes outra vez inquietas sombras!
Que me acompanhas na mente
Me tira... me tira a paz ...
Me aguça os sentidos...
Um segredo ao pé do ouvido
Um beijo na boca
O encontro dos corpos...
A cadência dos olhos, gulosos,
sob aquele lindo corpo nu.
Uma vertigem de você.
ah inquietas sombras, que vindes outra vez.

Fim de tarde


Estava pingando.
Havia entrado no banheiro a 8 horas atrás,

quebrando o silêncio com gotas que caiam sobre o solo. 
Seu cabelo ainda pingava, e não sentia mais as suas pernas. 
Inerte.
Incoerente. 
Incompreensível. 
De tanto que os pensamentos iam e vinham na sua mente,
não conseguia esquecer aquela cena. 
Daquela boca amargurada nada saia. 
Não havia voz.
Também não escutava.
Não se concentrava. 
Parecia um filme arranhado,
que lhe rasgava a memória cada vez que era reprisado. 
Outrora ganhava uma coragem. 
Um misto de ódio, e ódio. 
Ao mesmo tempo em que construía planos, desconstruía tudo. 
Pela primeira vez passara a sentir o gosto amargo de ser Humano.

Nojo.

Preciso pôr para fora. Gritar.
Esbaldar.
Essse sentimento meu, do meu íntimo.
De culpa, de medo. De ódio, de você.
Que me cospe a cara, dá-me um tapa.
Diz que eu sou puta.
Me chama de lixo.

Me ata as mãos. Me prende em você.
Me suga a alma.

Põe para dormir, briga comigo.
Me humilha me xinga me pisa.
Me ama.
Finge que me ama.
Engana.
Sofre.
Chora.

Exala o que transborda:
esse cheiro de nojo,
esse gosto de álcool.
Essa cara de nunca mais.

Decadência III

Acordei com gosto de ânsia na boca. Meus desejos não são os mesmos, e a taquicardia me assola. Chega de mal querer-me. Quero ser feliz de felicidade.

Decadência II

Eu me disfarço em máscaras, choro sangue. Esse Lugar fede. Me tira daqui por favor.

Atmosfera.

Sem roupa veste-se de perfume
E como uma manta envolve seus
Braços em meu corpo aquecendo-o

Sinto-me agasalhado pelo teu cheiro
O que me faz ficar nu ao teu lado

Despido de pensamentos meu olfato
Fala por mim quando a sua essência
Atiça meus pêlos e me deixa trêmulo

Procuro o chão, mas me vejo em uma
Nuvem de algodão que é seu corpo
Que nesse momento já começa a garoar
Gotas de suor com fragrâncias e aos poucos
Desvendo a atmosfera que tem o seu aroma.

( Flávio Cardoso Reis )